domingo, 15 de abril de 2012

Teologia da esperança e ministério pastoral


“O cristianismo é total e visceralmente escatológico, e não só a modo de apêndice (...). O escatológico não é algo que adere ao cristianismo, mas simplesmente o meio em que se move a fé cristã, aquilo que dá o tom a tudo que há nele. Como a fé cristã vive da ressurreição do Cristo crucificado, ela não pode ser simplesmente parte da doutrina cristã. Ao contrário, toda a pregação cristã uma orientação escatológica”.  
Jürgen Moltmann     
   
I.    INTRODUÇÃO:
É com muita satisfação que estarei desenvolvendo este trabalho cuja proposta foi inspirada na releitura que Ricardo Gondim, faz de Moltmann depois de vinte anos da publicação da obra “Teologia da Esperança”. É muito enriquecedor se enraizar ainda que brevemente na teologia deste notável teólogo que segundo Batista Mondin:

 “... talvez seja a figura mais representativa da teologia protestante contemporânea, depois do desaparecimento dos grandes lideres de escolas: Barth, Cullman, Tilich e Bonhoeffer”[1].

Estarei assim conforme solicitado, a partir desta reflexão, fazendo breve analise sobre a importância do ministério pastoral para o desenho do futuro em nossa sociedade.

II.    Comparação entre o contexto sócio-cultural de Moltmann e a Atualidade.
Entendo, antes de tudo, que seja necessário para o desenvolvimento deste trabalho, repassar em que circunstâncias se deram a conversão e posteriormente o desenvolvimento do ministério deste pastor luterano alemão, e faço isto transcrevendo brevemente alguns fatos relativos à sua vida:

“Jürgen Moltmann é um dos principais teólogos Luteranos contemporâneos. Ele nasceu em 1926 em Hamburgo, Alemanha. Moltmann lutou na II Guerra, foi feito prisioneiro pelos ingleses e foi levado para um campo de concentração na Inglaterra. Moltmann de 1945-1948, esteve prisioneiro dos aliados na Bélgica e na Inglaterra. Esses anos de prisão levaram-no a refletir sobre o sentido da vocação cristã. Em 1948 voltou a Alemanha e foi estudar teologia. A partir de 1952, atuou como pastor da Igreja Luterana. Desde 1967, foi professor de teologia sistemática na Universidade de Tubinga. Moltmann é um escritor prolífico, centrado integralmente em ‘olhar a teologia sob um ponto de vista particular: a esperança. É uma contribuição sistemática à teologia, na qual considera o contexto e a correlação que os diferentes conceitos têm no campo da teologia’.Moltmann dedicou-se e ainda se dedica a lecionar teologia em universidades. Moltmann é o criador da 'Teologia da Esperança', em que desenvolve as idéias da realização do Reino, como promessa fundamental de Deus”.[2]

http://megainteressante.tumblr.com/
É muito conveniente, observar que Moltmann, encontrou-se em meio a uma guerra ainda muito jovem (19 anos); penso ainda sobre as esperanças de um jovem alemão naqueles dias, em meio a toda uma efervescência ideológica por parte do nazismo de Adolf Hitler, propondo um mundo novo que não chegou, mas que certamente foi motivo de frustração para uma imensidão de jovens como ele. A crise de Moltmann certamente, foi diferente da vivenciada por Karl Barth[3], e por Dietrich Bonhoeffer[4], estes lutaram contra a guerra, como pastores, já aquele cria nos ideais Alemães, que, entretanto, entrou em colapso para a decepção de muitos.

O site www.batistafluminense.org/pastas/654/Licao, afirma o seguinte:

“Moltmann viu outros alemães desistirem de toda a esperança. Alguns adoeceram e outros até morreram. O mesmo teria acontecido com Moltmann se não tivesse encontrado Jesus. Um capelão lhe deu uma versão do Novo Testamento que incluía os Salmos em apêndice”.

Embora, a humanidade, não esteja imersa em uma guerra mundial nas características em que viveram os contemporâneos do jovem Jürgen Moltmann, não é difícil, constatar que milhões de pessoas na atualidade, percebem que uma guerra muito maior já foi perdida – a guerra da modernidade, trazendo uma avassaladora frustração de que o progresso não pôde cumprir as promessas de um mundo melhor. Existe, no mundo em que vivemos uma evidente desesperança. Quanta gente doente não somente fisicamente, mas também na alma? Quantos estão morrendo da tal desesperança?  E como a experiência deste teólogo Alemão nos inspira a uma reflexão! Desejo aqui citar uma frase conhecida e que creio ser oportuna para fazermos uma conexão entre aquele passado e o momento em que vivemos:  

"Sem conhecer a história, ficamos desorientados, não evoluímos e ainda repetimos os erros do passado”.

III.    A importância do ministério pastoral para o desenho do futuro em nossa sociedade: 
Embora, o futuro, parecesse sombrio para Jürgen Moltmann como o foi para milhões de jovens de sua época, foi lhe descortinada uma real esperança, ao encontrar-se com Jesus e ao ser-lhe oferecida pelo tal capelão, uma versão do Novo Testamento com os Salmos em apêndice. Penso que a história se insinue a repetir. Os prenúncios da pós-modernidade são escatologicamente armagedônicos; espantam-nos sobremodo; entretanto a igreja, não pode ficar passiva, aguardando o lado trágico do desfecho apocalíptico. Como afirmou o próprio Jesus o ômega do momento escatológico:  

Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cadadia o seu próprio mal.  Mateus 6:34

Existe realmente uma tensão entre o trágico e o maravilhoso no escatológico, e o trágico é o que não nos convém inculcar e disseminar, mas sim nos esforçarmos para que ele não domine o nosso presente, pois o presente é o tempo em que vivemos.  O cristão deve ser incentivado e instruído como foi o jovem Moltmann, a ser intolerante com o mal, pois este sim gera tragédias, frustrações e desesperanças; este sim antecipa para o nosso tempo o caos apocalíptico, que de nada nos interessa.  O pastor, em especial, deve proclamar um tempo de esperança, mas também um tempo em que os homens sejam levados a confrontarem a sociedade humana com todos os seus títulos e impérios que se organizam alicerçados em expectativas destrutivas.  A instrução do ministério pastoral deve ser no sentido de que a igreja não somente espere uma cidade futura, mas que já comece a se estruturar para experimentá-la, vivendo como cidadão dela aqui, pois Jesus já começou o processo de introdução do seu reino aqui neste mundo quando ressuscitou.
Estamos certos de que realmente no futuro, em Jesus, algo absolutamente surpreendente irá acontecer, entretanto, por ele ter ressuscitado e irrompido na história e na realidade humana, tendo feito isto com esplendoroso poder, não está isento de no presente, começar em nós e através de nós, surpreender-nos com os seus poderosos feitos.
Assim passou a crer e a pregar o outrora desesperanço soldado alemão Jürgen Moltmann, mas que ao aceitar Jesus pôde, através Dele, reconhecer quem realmente governa o universo e quem realmente concede uma esperança que jamais será frustrada.

IV.    Conclusão:
Para concluir, desejo, transcrever um texto de Batista Mondin sobre a relevante teologia deste inspirador teólogo e pastor alemão, que por certo, nos levará a considerar a importância do ministério pastoral como influenciador deste mundo desesperançoso e sombrio em que vivemos, mas que pode ser impactado pela proclamação de Jesus, no qual a esperança jamais será frustrada:

                         “Colocado em confronto com aquilo que podemos experimentar agora, ele traz algo de radicalmente novo. Não obstante, não está completamente separado da realidade que experimentamos e que vivemos atualmente, porque, como futuro ‘virtual’, ele influi sobre o presente, despertando esperanças e suscitando resistências... A esperança cristã não se volta a nenhum outro a não ser para o Cristo que veio, mas espera dele algo novo, algo que ainda não aconteceu, espera que se cumpra em todos,  a justiça de Deus que foi prometida por meio de sua ressurreição, espera que se cumpra a senhoria daquele que foi crucificado, estendendo-se a todas as coisas prometida em sua glorificação” [5].   


[1] Mondin, Battista, Os grandes Téologos do Século XX, Título original: I Grandi teologi del secolo ventesimo, Edições Paulinas. São Paulo - SP, p.195, 1987.
[2] http://teologia-contemporanea.blogspot.com/2008/02/jrgen-moltmann-1926.html, acessado em 20/06/2009.
[3] Karl Barth (10 de Maio de 1886—10 de Dezembro, 1968) foi um teólogo cristão-protestante , pastor da Igreja Reformada, e um dos líderes da teologia dialética e da neo-ortodoxia protestante. Nasceu na Basiléia e foi criado em Berna (ambas na Suíça). De 1911 a 1921 foi pastor da aldeia de Safenwil no cantão de Aargau. Lecionou teologia em Bonn, Alemanha, mas, em 1935, recusou-se a apoiar Adolf Hitler e teve que deixar o país, retornando à Basiléia. ... Originalmente treinado na Teologia Protestante Liberal, desapontou-se com ela devido aos males e horrores da Primeira Guerra Mundial...
[4] Dietrich Bonhoeffer (Breslau, 4 de fevereiro de 1906 – Berlim, 9 de abril de 1945) foi um teólogo, pastor luterano, membro da resistência anti-nazista alemã e membro fundador da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política nazista. Bonhoeffer envolveu-se na trama da Abwehr para assassinar Hitler. Em março de 1943 foi preso e acabou sendo enforcado, pouco tempo antes do próprio Hitler cometer suicídio.
[5] Mondin, Battista, Os grandes Téologos do Século XX, Título original: I Grandi teologi del secolo ventesimo, Edições Paulinas. São Paulo - SP, p.199, 1987.

Trabalho que apresentei em meu curso de Bacharel em Teológia para a Universidade Metodista de São Paulo 

Abraços aos alunos do CEFORTE - extensão Cabo Frio - RJ, para os quais ministrei a matéria Teologia Contemporânea. 

Rev. Derciley Chaves Bastos

Um comentário:

  1. Aprender com exemplo de pessoas de Deus nos enriquece muito espiritualmente, bem como,nos inspira a uma reflexão.
    Foi ,de fato, muito oportuna a leitura deste texto, analisando a trajetória e conhecendo um pouco mais deste teólogo alemão luterano, o qual viveu no século passado e foi feito prisioneiro de guerra e levado para o campo de concentração na Inglaterra. É muito importante ressaltar que Moetmann encontrou-se em meio a uma guerra ainda muito jovem, seus sonhos e ideais foram tomados certamente pelos revezes da vida que chegaram até ele. Analisando estes fatos, poderíamos dizer que Moetmann tinha tudo para se tornar uma pessoa depressiva, revoltada e sem esperança alguma. Seria um cenário totalmente montado por um fututo sombrio, como aconteceu com outros de sua época. Em contrapartida, foi lhe descortinada uma outra realidade, ao encontrar-se com Jesus através de uma experiência genuína.
    Partindo deste princípio, a grande lição deixada para nós foi a que não devemos ficar ressentidos pelas circunstâncias da vida. De fato, Deus há de mudar o quadro. A Bíblia relata em Salmos 30:5b que ''o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer.''
    São muitas as guerras que batem na porta levando consigo desesperança e tristeza. Ainda há muita gente doente da alma. Todavia, a Igreja não deve se tornar passiva a tais ocorrências, trazendo a memória a importância do ministério pastoral de Moetmann no desenho presente e futuro da sociedade, pois são justamente as verdades do evangelho de transformação, que devem ser pregadas com veemência a fim de libertar as pessoas de toda espécie de mal.
    A mensagem nas igrejas deve ter como prioridade a salvação em Jesus Cristo e a vida eterna com Ele e não somente colocar em primeiro plano os bens materias de consumo.
    Foi assim que aquele homem passou a crer e pregar, e apesar da vida difícil, nada do que aconteceu o impediu de avançar, levando assim, muitas vidas aos pés do Senhor.
    Oro para que cada um de nós assuma esta responsabilidade diante desta grande tarefa. O evangelho é para todos os excluídos que serão transformados.

    Antônio Luiz V. Santos - Turma de sábado

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